Professor Dr. Ilan Chamovitz

Ilan Chamovitz – ilan@pep.ufrj.br
APIT - Programa de Engenharia da Produção – COPPE – UFRJ
Rio de Janeiro – RJ - Brasil

Publicado no Forum Mundial de Educação - baixada fluminense - 2008

Resumo: Ao utilizar a técnica de StoryTelling, não se sabe se as versões estão próximas da realidade. Especialistas podem ajudar atribuindo graus a cada versão, dependendo da pessoa que conta, de como conta, do local onde estava, do tempo que passou observando ou experimentando a atividade. Este artigo originou-se a partir de uma apresentação sobre storyteling. O estudo sugere a utilização da lógica fuzzy para auxiliar na avaliação das narrativas coletadas.

1. Introdução
Várias técnicas existem para reconstrução de eventos. Entrevistas e coleta por questionários fazem parte destas técnicas. Ferramentas que utilizam a Internet podem ajudar a recuperação de informações sobre um evento: Blog, Forum, Plataformas de cooperação, Listas de discussão, E-mail, video-conferência são alguns exemplos. No Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi contruído um instrumento para auxiliar na recuperação de estórias, situações, eventos, incidentes: o Tell Story, que trabalha com a técnica de StoryTelling. Segundo Terra (2006), as histórias fazem parte de uma organização e, não raro, são modificadas:
“A maioria das histórias em uma organização é baseada em casos reais, que podem ser ligeiramente modificadas para dar ênfase em um ponto específico ou para direcionar a narrativa. Alguns exemplos de tipos de histórias no contexto organizacional são: Histórias inspiradoras – usadas para estimular a imaginação e gerar energia e cooperação; Histórias de Ação Preventiva, usadas para ensinar lições sobre o perigo proveniente de certas emoções negativas ou insegurança; e Histórias que refletem um valor organizacional específico, tais como, lealdade, confiança, priorizar sempre o cliente, sustentabilidade, entre outros.” (TERRA, 2006)
Este estudo ocorreu a partir de um trabalho sobre StoryTelling, apresentado pelo professor Marcos Borges, na disciplina de Lógica Fuzzy do Programa de Engenharia da Produção da COPPE/UFRJ, no segundo período letivo de 2006, ministrada pelo professor Carlos Alberto Nunes Cosenza. O objetivo seria identificar alguma forma de utilização da lógica fuzzy na técnica de StoryTelling.
2. Uma sugestão para a utilização de Lógica Fuzzy em Storytelling
Ao tentar reconstruir uma sequência de eventos ou de atividades, pode-se adotar a técnica de storytelling: participantes escrevem as partes que se recordam, complementando umas às outras. Porém, como identificar e medir áreas de conflito? Nem sempre todos viram ou experimentaram a mesma situação. Cada um tem a sua versão, e acha que está mais próximo da situação real. Este trabalho estabelece limites e sugere regras, utilizando a lógica fuzzy, para que os tomadores de decisão possam dirimir dúvidas, optando pelas narrativas mais pertinentes.
Segundo os trabalhos analisados, as perguntas principais que fazem parte da técnica de storytelling são: “Quem? Qual? O quê? Quando? Onde? Como? Por quê?” Como veremos adiante, nem sempre respostas seguem um determinismo tão forte e podem, em alguns casos, sugerir certo grau de incerteza. Segundo Pinheiro (2005)
“ a forma como a narrativa é apresentada ao leitor/receptor pode variar sensivelmente. Uma mesma história narrada oralmente é definitivamente diferente se for narrada utilizando a linguagem cinematográfica. São veículos diferentes, com características formais, linguagens, códigos diferentes” (PINHEIRO, 2005).
Como saber qual a descrição do evento que tem mais possibilidade de estar próxima da estória conhecida?
Por exemplo, ao descrever um acidente, o motorista do onibus afirma que um passageiro ficou levemente ferido, um passageiro que se identificou como advogado também concorda. Entretanto, um outro passageiro, médico, afirma que o ferimento é grave e que o passageiro ferido corria risco de vida. São duas opiniões contra apenas uma. Qual das opiniões o pesquisador deve levar em consideração? Certamente o pesquisador deve levar em consideração a competência do médico ao descrever que o ferido corria risco.
Na lógica fuzzy, estabelecemos variáveis linguísticas e, também, valores de pertinência para que este tipo de situação possa ser resolvido, dentro da complexidade apresentada. A opinião de um médico a respeito de uma situação de saúde pode ser considerada crítica, enquanto que a opinião de leigos em medicina é pertinente. Porém, não tão valorizada quanto uma opinião de um especialista. Sendo assim, o especialista pode avaliar as respostas obtidas para as questões O que? Quando? Onde? Quem? Por que?
Cada resposta pode obter de um especialista os seguintes valores linguísticos: fraco ou forte. Esses valores são conjuntos fuzzy (variam entre 0 e 1) e estão representados na figura 1. Os valores representam graus de pertinência para cada resposta das 5 perguntas que são feitas.

Figura 1. Conjuntos fuzzy fraco e forte para pergunta “quem?”
Para obter um valor único que serve para mensurar o grau de aproximação da situação real, pode-se realizar operações com conjuntos nebulosos. Assim, utiliza-se a operação produto, onde são preservados os valores mínimos resultantes da comparação dos graus obtidos em cada pergunta.
Tabela 1. Graus de satisfação para perguntas
Perguntas Grau
Quem .9
O que .7
Onde .7
Como .8
Por quê .2

Assim, se a pergunta”quem?” obteve grau 0.9 de satisfação do pesquisador para a resposta obtida, e a pergunta “ por que” obteve grau 0.2, o resultado seria 0.2 para esta comparação. No nosso estudo, a partir dos 5 graus obtém-se um valor resultante (por meio de mínimo-máximo).
Cada coleta deve responder às 5 questões. Logo, teremos um valor resultante para cada coleta (cada pessoa que contribuiu). Ao utilizarmos a operação de união estaríamos determinando o grau que representaria a possibilidade das informações coletadas estarem próximas da informação desejada.
Tabela 2. Exemplo de valores fuzzy a serem operados
Coleta Valor Fuzzy
Entrevistado 1 .2
Entrevistado 2 .5
Entrevistado 3 .9
MAX .9

3. Conclusão
Avaliar descrições de atividades, de eventos e tentar resgatar os acontecimentos por meio de versões distintas, apresentadas por um grupo de pessoas, implica em grande dose de interpretação. Não se sabe se as versões estão próximas da realidade. Especialistas podem ajudar atribuindo graus a cada versão, dependendo da pessoa que conta, de como conta, do local onde estava, do tempo que passou observando ou experimentando a atividade.
Este estudo prospectivo apresenta a lógica nebulosa para auxiliar na decisão de escolha entre versões conflitantes, por meio de regras que atuam em conjuntos fuzzy.
Sugere-se que, como continuação deste estudo, sejam criadas as regras que permitirão atribuir valores (graus de satisfação) às respostas das 5 principais perguntas que servem para a coleta de informações sobre determinado evento.

Referências
PINHEIRO, M. (2005). Narratividade e interatividade no contexto da World Wide Web e a possibilidade de reconstrução da experiência coletiva. 3o. Congresso Internacional de Pesquisa em Design. Disponível em http://www.feiramoderna.net/artigos/MauroPinheiro_ANPEDESIGN2005.pdf#search=%22storytelling%20contexto%22
SANTORO, F.M. & BRÉZILLON, P. The Role of Shared Context in Group Storytelling. Disponível em http://www.google.com/search?q=cache:SBwBvWT3xFUJ:www.uniriotec.br/~flavia.santoro/SeminarioIME/Artigo1.pdf+TELLSTORY+santoro&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=11
PERRET, R. BORGES, M.R.S. SANTORO, F.M. Applying Group Storytelling in Knowledge Management (2004). Disponível em http://www.google.com/search?q=cache:QXrMP6zEm6cJ:chord.nce.ufrj.br/cursos/edi2004/artigos/criwg200Tellstory.pdf+TELLSTORY+santoro&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=7

TERRA, J.C.C.(2006). Storytelling como ferramenta de gestão. Disponível em http://www.terraforum.com.br/sites/terraforum/Biblioteca/Storytelling%20como%20ferramenta%20de%20gest%C3%A3o.pdf#search=%22storytelling%20contexto%22 . Acessado em agosto de 2006.
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